quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sobre a "dôtôrização"

Algumas coisas nesta vida me dão calafrios. Uma delas é o que chamo de "dôtôrização". Com a licença dos gramáticos, é assim mesmo, com os dois acentos. Você já deve ter passado por uma dessas. Alguém liga pra você, de preferência de um órgão público, e avisa que Dôtô Fulano está na linha. Sim, Dôtô. Porque doutor é quem tem doutorado, com tese aprovada em banca examinadora ou honoris causa. Ou, por força do hábito, médicos e juizes, vá lá.

Mas como posso admitir que alguém que fez um primário porcamente feito só porque está no alto da hierarquia de empresa ou entidade seja alçado a doutor? Isso me lembra o antido Coroné, tão presente na literatura do Século XX. É isso! O Dôtô é o Coroné do Século XXI. É a otoridade.

A síndrome do pequeno poder faz isso. E as pessoas não se dão conta da breguice. Pegue-se tentando chamar o Deputado Tiririca (é, o título de deputado ele tem, fazer o quê), de Dôtô Tiririca. Fica feio né?

As pessoas têm cargos e títulos, de verdade, que podem ser usadas como pronome: deputado, secretário, ministro, superintendente, vereador, delegado, desembargador... Pra quê dôtô?

Fico refletindo qual será o próximo título que entrará na moda. Com a desvalorização do conhecimento, chamar alguém de doutor (ou dôtô) vai ficar démodé. E termos que recorrer a um novo. Alguém se habilita a fazer a previsão?

2 comentários:

  1. A moda atual é chamar qualquer batuqueiro de gênio.
    Por um mundo melhor***

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  2. Por enquanto, aposto em Barão. Título efetivo, para alguns, pode ter o uso deturpado. Encaixa-se, não?

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