segunda-feira, 2 de março de 2020

Coronavírus e a hipocrisia parental

Já tem muita gente falando do despautério que é dar ao COVID-19 o título de cavaleiro do apocalipse com dengue, sarampo, feminicídio e tantas outras formas de morrer disputando para levar nossa alma pro além. Quero narrar outro causo.

Conheço um pai (dá pra chamar de pai?) que tem sistematicamente postado alardes, avisos, terrores sobre a doença. Sobre o perigo que nos aguarda na esquina e as mais escabrosas teorias da conspiração envolvendo a dominação global e a epidemia.

O detalhe é que sei, de fonte segura, que esse mesmo que se preocupa com o futuro da humanidade cancelou o plano de saúde dos filhos. Pra completar, mesmo com decisão judicial, não repassa o valor para que a mãe possa manter um seguro para o caso de necessidade de atendimento para aqueles que trouxe ao mundo.

Fazer furdunço no Facebook é moleza. Quero ver pagar a pensão. Ou, mais raro ainda, limpar a meleca e passar a noite em vigília medindo uma eventual febre dos rebentos que abandonou.


O roteiro de novela

A vida real não tem compromisso com a verossimilhança. A frase é mais ou menos essa, mas o que vale é o raciocínio, do sempre brilhante professor Wilson Gomes.

Reativei esse blog para contar as crônicas, causos, vivências de amigos (e algumas minhas) que de tão surreais parecem ter saído da cabeça de um escritor que tomou umas pancadas. Se estivessem em uma obra ficcional, os críticos seriam severos: a obra é uma farsa.

Arthur Rimbaud já dizia que a vida é uma farsa a ser levada por todos. Na minha inocência, achava que era só uma frase bonita. Mas só há lógica na ficção.

Por isso, vou registrar e narrar (com umas pitadas de invenção pra ajudar a preservar a identidade das personagens) os fatos mais insanos, mais hollywoodianos, mais farsescos, ridículos, absurdos, non-sente, bizarros, cretinos que me contam por aí.

Como repórter e ouvidora de histórias, vou tomar o papel novamente de contadora.

Faço sem a expectativa de alguém me ler. Faço para tirar de mim esse emaranhado de vidas.

Ao leitor eventual, não espere método, lógica ou técnica. Vai ser como for.

Em tempo: não pedi autorização de ninguém. Se você é meu amigo e sentir-se exposto, venha falar comigo. A ideia não é essa.