quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Marasmo

Todo ano é assim. Quando janeiro chega, tudo para. Nós, pobres mortais que seguimos com a rotina da semana inglesa, somos cobrados porque não entramos no clima de verão. Todos querem um banho de mar, uma balada à noite e um distendimento no tempo do lazer. Mas nós, pobres operários, continuamos a apertar os nossos parafusos.

O problema é que a matéria-prima do trabalho jornalístico é justamente o fato noticioso. E aí, começa o complexo Marina Lima do jornalista no verão. "Eu espero / Acontecimentos / Só que quando anoitece / É festa no outro apartamento".

Ao lado da culpa de não poder curtir com os amigos a boa boemia, vivemos o conflito de não encontrar nada que preste para levar a nossos leitores, ouvintes e telespectadores. Fazer o quê?

A cada dia vivido em redação tenho mudado minha forma de ver os critérios de noticiabilidade. Aprendemos, nas salas de aulas em busca do tão desprestigiado diploma de Comunicação, que quanto proximidade, impacto, drama humano, desastres naturais... são coisas que despertam o interesse do consumidor de informação. Mas é na redação que aprendemos que este valor não é absoluto: é relativo.

Explico: em tempos de vacas magras, qualquer criatura que se tranca num porta-malas por três dias merece render manchetes por uma semana. O destino de Ronaldinho vira página inteira. A roupa da vice-primeira-dama ponto de debate na bancada do horário nobre. E as doenças de verão surgem em todo o noticiário, como se reservassem algo de novo este ano. É a escassez, amigo.

Por isso, preciso agradecer ao prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro. Sem sua reforma repentina e devastadora de secretariado, não sei o que seria destes meus últimos dias. Mas como nem todo mundo tem um João, lamento pelos colegas de outras praças.