terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ódio ao desperdício

Reduzir, Reutilizar, Reciclar. Os três erres do discurso ecochato (sou ecochata, então me sinto livre pra usar o termo) deveria ser expandidos a muitas outras searas, indo além dos saquinhos plásticos (há anos digo "não, obrigada" aos saquinhos) e às garrafas pet.

Parece complicado, mas não é. Atire a primeira pedra quem não quis dizer um palavrão por ter que executar uma tarefa que sabe ser inútil. É o nosso primeiro erre. Para fazer uso racional da matéria-prima "inteligência humana" só deveria ser demandado o necessário, sem sobrecargas.

O segundo erre também não fere em nada o resultado. Se já temos um determinado estudo ou produto feito, de boa qualidade, porque fazer outro? Só pelo prazer inútil do ineditismo em detrimento da qualidade do resultado? Melhor um bom reutilizado que um meia-boca novo.

O último erre é um prêmio para os profissionais e só se precisa chegar a ele se os outros dois não foram bem colocados em prática (igualzinho às nossas sacolinhas de plástico). Pegar o que está feito, dar uma roupagem nova e poupar esforços inúteis.

Mas pior do que todos estes desperdícios, é quando alguém executa uma tarefa que não vai dar em nada. Leva horas de seu esforço mental, energia elétrica, telefone, papel... Para fazer algo que vai parar no lixo. É como confeitar um bolo que nunca vai sair da cozinha no dia da festa.

Vamos repensar os modelos de gestão?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cinzel e martelo



Meu jovem pai (sim jovem, completou 50 anos há pouco) sempre repete um pensamento do qual gosto muito: a tecnologia nos dá apenas ferramentas, nós que precisamos saber como usá-las. A ideia é a seguinte, ele diz. Michelangelo fez a perfeita estátua de Davi usando cinzel e martelo.

Eis a questão que me atormenta. Cansamos de ver (ler e ouvir) notícias de que um novo equipamento, a TV 3D, uma câmera que faz tudo sozinha - como identificar convidados e fotografá-los em uma festa, um novo software que permite novas alterações em imagens, etc, etc, etc vão ocupar o lugar das pessoas em funções criativas, ou melhor, que qualquer um poderá exercê-las. Me desculpem os apocalípticos, até porque não sou da seara dos integrados, mas não é bem assim que a banda toca.

A cada dia vejo mais coisa mal feita com alta tecnologia. Filmes que desperdiçam milhões e milhões para resultados medíocres. Cartazes, folders e revistas diagramados porcamente em softwares avançados. Músicas indescritíveis de tão ruins que usaram o que há de melhor em estúdios para serem gravadas. E, principalmente, péssimos produtos feitos por gente que têm acesso a estes instrumentos, mas não têm a capacidade de criar.

O que digo aqui não é novo e não tenho a pretensão de dizer que trago uma luz sobre algo que estava escondido. Sei que há muitos bons pensadores sobre o mundo contemporâneo (sou só uma pitaqueira) que já expressaram isso aqui muito melhor que eu. Mas como disse no começo, são discursos que me atormentam.

Quando vejo alguns temerem a desvalorização das profissões criativas (diretores de arte, fotógrafos e cineastas, por exemplo) com a popularização de acesso às ferramentas para execução destes produtos, lembro sempre que Final Cut, Photoshop, In Design, 3D Studio Max, câmera HD... Tudo isso é cinzel e martelo. E são poucos aqueles que podem ter a honra de varrer a poeira de mármore num galpão onde trabalha Michelangelo.

Há cada vez mais gente que oferece serviços de comunicação, só pra falar da minha área, porque tem os equipamentos certos, mas que entrega produtos que são de chorar. Tenho visto cada vídeo institucional por aí que só lamentando. Não é porque você tem uma câmera na mão e uma ideia na cabeça que se tornou Glauber Rocha (e olha que eu não sou fã dele).

Sobre a desvalorização do mercado, que está de assustar, eu deixo pra dar um pitaco depois.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Olhar sobre a tecnologia

A máquina de meu avô era bem parecida com esta

Muitos anos atrás, uma amiga esteve lá em casa. Ela levava a filha pequena, de 5 anos, para me visitar. À época, no aparador da sala, descansava quase que como um monumento, a antiga máquina de escrever que pertencera a meu avô Argemiro, que por poucos meses não pude conhecer.

Intrigada, a pequena olhava aquele equipamento com as teclinhas redondas e botões suspensos em finos ferrinhos. Perguntei: "quer ver como funciona"? Ao receber um sinal de positivo com a cabeça tratei de colocar o papel, enrolar e estimulá-la: "vá, agora escreva seu nome".

Depois de apertar uma letrinha após a outra com os olhos brilhando ela me fita e responde: "nossa, esse computador já sai na impressora".

Não é que ele estava certa?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sobre a "dôtôrização"

Algumas coisas nesta vida me dão calafrios. Uma delas é o que chamo de "dôtôrização". Com a licença dos gramáticos, é assim mesmo, com os dois acentos. Você já deve ter passado por uma dessas. Alguém liga pra você, de preferência de um órgão público, e avisa que Dôtô Fulano está na linha. Sim, Dôtô. Porque doutor é quem tem doutorado, com tese aprovada em banca examinadora ou honoris causa. Ou, por força do hábito, médicos e juizes, vá lá.

Mas como posso admitir que alguém que fez um primário porcamente feito só porque está no alto da hierarquia de empresa ou entidade seja alçado a doutor? Isso me lembra o antido Coroné, tão presente na literatura do Século XX. É isso! O Dôtô é o Coroné do Século XXI. É a otoridade.

A síndrome do pequeno poder faz isso. E as pessoas não se dão conta da breguice. Pegue-se tentando chamar o Deputado Tiririca (é, o título de deputado ele tem, fazer o quê), de Dôtô Tiririca. Fica feio né?

As pessoas têm cargos e títulos, de verdade, que podem ser usadas como pronome: deputado, secretário, ministro, superintendente, vereador, delegado, desembargador... Pra quê dôtô?

Fico refletindo qual será o próximo título que entrará na moda. Com a desvalorização do conhecimento, chamar alguém de doutor (ou dôtô) vai ficar démodé. E termos que recorrer a um novo. Alguém se habilita a fazer a previsão?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Outros carnavais




Sem trios elétricos, com muita fantasia.

No carnaval de Maragojipe, as estrelas são as pessoas do local, que se enfeitam e se produzem para brilhar no sol do Recôncavo.
Esta é uma festa realmente democrática, com as máscaras e caretas pelas ruas em grupos de amigos, famílias ou foliões solitários. Sem cordas ou separações.

Este clima especial é retratado no documentário No Ilê das Máscaras dirigido por Antonio Pastori. Hoje (13 de fevereiro), a partir das sete da noite, a TVE mostra a primeira como preparação do carnaval. É o trecho mais festivo do documentário. A outra parte, mais sentimental, será exibida domingo que vem, no mesmo horário. É bom pra conhecer um outro carnaval da Bahia.

Se quiser sentir o gostinho, dê um pulo no canal da Casa do Verso no YouTube: www.youtube.com/user/casadoverso .

As fotos desta postagem são de Júnior de Major.

Jornalismo empresarial ou comercial

Não somos ingênuos: toda empresa tem seus interesses, seus valores, suas metas, seus parceiros. Mas o principal interesse de uma grande empresa deveria ser o de permanecer viva.

Quando calouros, ainda esquentando os bancos da universidade, os futuros jornalistas aprendem que o jornalismo empresarial capta audiência para vendê-la aos anunciantes. Bem simples, não? Você convence parte do público que o seu conteúdo é interessante e ele vai consumir aquelas informações. Mais gente vendo, melhor para quem coloca as propagandas entre uma e outra notícia. Um dos valores que tradicionalmente mais manteve a fidelidade da audiência é a credibilidade da informação.

Mas não é de hoje que esta situação mudou. Vemos pautas que causam estranheza dentro dos noticiários e outros assuntos, que movem quem passa pela cidade, ausentes dos periódicos. O problema é que muitos dos profissionais de vendas usam a máxima de "o cliente tem sempre a razão" de maneira danosa ao bom jornalismo e misturam setores que deveriam ser completamente distanciados. E as redações se tornam setores anexos ao comercial. Pode até parecer num primeiro momento que isto deixa o anunciante feliz, mas isto é ilusório.

Como agradar concorrentes? Como se omitir de assuntos que palpitam entre as pessoas? Qual o preço em não colocar a noticiabilidade acima das trocas diretas?

Existem publicações de classificados, muitas distribuídas em sinaleiras. Isso não é jornalismo. E não desperta interesse do leito. Se não acordarmos, estamos todos fadados a enfeitar papel de enrolar peixe.